As operações logísticas servem para organizar e planejar diversos processos dentro de uma empresa: desde o transporte e a movimentação até a armazenagem de produtos. É claro que isso envolve um custo, e a otimização desse recurso é fundamental para, além de aumentar a competitividade, melhorar a saúde financeira do negócio.
As questões ambientais e de sustentabilidade devem ser consideradas em todas as operações, mas, será que é possível alinhar as questões logísticas de forma a oferecer menos impactos ao meio ambiente?
A logística verde é um mecanismo de sustentabilidade ambiental no sistema operacional das empresas e se apresenta como importante alternativa para o desenvolvimento sustentável. Comumente pensa-se em práticas sustentáveis pelos benefícios sociais que elas trazem. Isso, por si só, já é importantíssimo. Mas, no meio empresarial, é também uma maneira de destacar produtos e alcançar mercados cada vez mais exigentes.
“Nós percebemos diariamente o crescimento da consciência ambiental, as pessoas, em sua maioria, têm se preocupado com futuro das próximas gerações, principalmente com que planeta deixarão para seus descendentes. Essa consciência tem feito surgir também os ‘consumidores verdes’, já descritos por estudiosos, inclusive, como aquelas pessoas que querem comprar produtos que causem o menor impacto possível ao meio ambiente. Valorizar marcas que pregam isso é também uma tendência”, conta o administrador especialista na questão, Edson Pereira.
A logística planeja e controla o curso das informações sobre produtos pós-venda e pós-consumo – desse aqui resulta a logística reversa, que tem a função de operacionalizar o fluxo físico dos materiais, juntamente com as informações correspondentes aos bens de consumo que foram descartados pelo consumidor, sendo que esses bens podem ser selecionados da seguinte forma: bens no final de sua vida útil, bens usados com possibilidade de reutilização e os resíduos industriais.
Como subárea da logística há a logística verde, aquela que considera os impactos causados ao meio ambiente e busca organizar as atividades na cadeia de suprimentos, procurando atender às necessidades dos consumidores com o ‘menor custo’ possível ao meio ambiente, e não se está falando apenas de custos financeiros, mas de todo e qualquer impacto causado pelas atividades logísticas.
Frentes de atuação
A regulamentação da ISO 14.000/04 ofereceu a norma que especifica os requisitos de um Sistema de Gestão Ambiental e permite, a uma organização, desenvolver uma estrutura para a proteção do meio ambiente e rápida resposta às mudanças das condições ambientais. Ela foi um dos fatores que contribuíram para a evolução da logística verde, dado que seu requisito de qualidade envolve a reciclagem de produtos provenientes dos processos de produção.
A norma leva em consideração aspectos ambientais influenciados pela organização e outros passíveis de serem controlados por ela. Estudiosos já registraram que a logística verde pode ser baseada nas seguintes frentes de atuação:
- Diminuição de externalidades de transporte de carga: impacto na intensidade de tráfego e contaminação da atmosfera.
- Logística Urbana: abrange a avaliação dos impactos citados anteriormente, além de avaliar benefícios econômicos, alocação de espaço diário e investir em transporte.
- Logística Reversa: retorno de resíduos à cadeia de produção, e redução do volume de resíduos que têm, como destinação final, aterros ou incineração.
- Estratégias ambientais das organizações para a logística: incluir o meio ambiente como fator importante para o modelo de negócios da organização, assim como projetos e programas ambientais.
- Gestão de cadeia de suprimentos verdes: adesão e inserção da gestão ambiental na gestão da cadeia de suprimento.
Entre os elementos e princípios que compõem uma cadeia logística verde, para otimizar as ações empresariais, estão:
- Empacotamento verde: mínimo uso possível de material para embalagem, ou a utilização de materiais biodegradáveis que não afetam o ciclo de vida.
- Carga e descarga verde: redução do desperdício de materiais, por meio da redução do uso de máquinas ultrapassadas, e investimento em novas máquinas.
- Armazenamento verde: boa infraestrutura de armazenamento fazendo com que os produtos tenham mais facilidade em se movimentar, e sejam transportados da mesma maneira.
- Transporte verde: implantação de unidades de transportes alternativos visando diminuir o consumo de energia e as emissões, além de busca por rotas com menor custo e manutenção correta dos meios de transportes.
- Distribuição urbana verde: contempla dois canais de distribuição. O primeiro canal se refere ao processo do produto até seu ponto de distribuição. O segundo canal é relacionado ao processo dos resíduos gerados por eles, sendo os fatores a serem melhorados o consumo de combustível e a emissão de gases poluentes.
- Gestão da informação verde: busca ter o controle total da informação, evitando o desperdício material e de energia elétrica, tornando os processos mais eficientes, economizando tempo e espaço, além de saber se os processos estão sendo realizados nos padrões exigidos.
- Uso intensivo de recursos e reciclagem: é a devolução dos resíduos gerados ao longo do processo, promovendo sua reutilização.
Processos que se complementam
“É importante se ter em mente que logística verde não é a mesma coisa que logística reversa. Existe uma confusão muito grande por parte de algumas pessoas acerca desses conceitos. A logística reversa é um componente da logística verde, responsável por administrar o retorno de materiais e embalagens ao processo de produção ou ao descarte seletivo. Por exemplo, quando vemos aqueles estandes em supermercados para que as pessoas descartem pilhas e baterias, ou mesmo lâmpadas queimadas, trata-se de logística reversa. Esses materiais voltam para as indústrias que o produziram para que tenham o fim adequado”, explica o analista de controladoria, Felipe Pinheiro, que já atuou em uma empresa nacional no setor de logística.
Pereira ressalta que as organizações têm em mãos diversas oportunidades de redução de emissões causadas pelas atividades logísticas que administram, algumas delas podem até trazer benefícios que vão além da questão ambiental, como já mencionado.
Segundo ele, para obter êxito nesse âmbito, as empresas precisam implantar ações diretas que reduzam emissões nas suas atividades logísticas; organizar-se internamente para gerar envolvimento e comprometimento da equipe; e alterar a forma de relacionamento com terceiros, o que inclui prestadores de serviço e outros elos da cadeia de suprimentos.
Pinheiro destaca ainda a importância de os profissionais investirem em formação adequada - em nível de graduação ou pós-graduação - em logística e administração de empresas para que possa compreender melhor os processos para gerir com melhor eficiência os negócios.
A Capital Realty, empresa com mais de duas décadas no mercado e reconhecida na área de infraestrutura logística, diz que, em se tratando de logística verde, é preciso repensar processos. Ao eliminar desperdícios, por conseguinte há aumento de produtividade. A utilização racional de recursos torna as companhias mais saudáveis do ponto de vista operacional.
De acordo com a empresa, a preocupação com aspectos ambientais deixou de ser acessória quando se trata de gestão. Atualmente, essa não é apenas uma demanda dos consumidores, mas é também uma necessidade de mercado. Aqueles que privilegiam esses aspectos, não só poderão reduzir seus custos, como também poderão encontrar mais oportunidades de negócio.
Companhias com certificações de qualidade passam a ter maior valor agregado sobre transporte e armazenamento. O investimento em tecnologia e em processos ecológicos pode significar ampliação de margem de lucro ou consolidação de diferenciais de mercado, o que não é pouca coisa em um momento tão competitivo como o atual.
Práticas exitosas
A logística da Volkswagen, fabricante alemã de veículos, propõe-se a otimizar custos e processos, fazer uso de centros de distribuição localizados de maneira estratégica, revisar luxos sistêmicos, redesenhar rotas e um planejamento de entregas criterioso. Ao realizar a substituição de carretas retas e rebaixadas por rodo trem, no transporte de peças estampadas, compradas e de motores, a empresa reduziu suas emissões indiretas de gases de efeito estufa em 2012 em, aproximadamente, 2.800 toneladas de CO2.
Em 2014, a Natura, empresa brasileira do setor de cosméticos, implantou um projeto de logística verde em que são utilizados mais de 20 veículos sustentáveis, como carros elétricos e bicicletas, para realizar entregas dos produtos em São Paulo, Valinhos, Belo Horizonte, Vitória e Porto Alegre. O projeto iniciou em 2014 com o uso dos carros e, em 2016, uma nova etapa foi implantada com a incorporação de bicicletas.
Esse modelo de entrega verde evitou a emissão de 24.700 kg de CO2 equivalente, correspondendo a quatro voltas de carro ao redor da Terra. A medida de CO2 equivalente é usada para expressar as emissões de gases do efeito estufa baseado no potencial de aquecimento global que cada um tem.
Os carros elétricos possuem uma emissão de carbono nove vezes menor, em relação a um carro convencional. Sua bateria carrega em, no máximo, oito horas, e circulam 150 km com o mesmo desempenho de um carro convencional.
Além dessas medidas, também se ampliou o emprego de navegação de cabotagem, para entregas nos três centros de distribuições localizados nas regiões Norte e Nordeste. Essa medida proporcionou menor impacto ambiental se comparado ao modal rodoviário, evitando a emissão de mais de 2 mil toneladas de CO2 em 2015.
A Dow Química, indústria do ramo de produtos químicos, construiu um Armazém Verde de 5.500 metros quadrados em sua unidade no Guarujá (SP), cuja capacidade é de 5 mil posições pallet de carga seca, o que representa um volume aproximado de 4 mil toneladas de produtos. Ele foi construído de acordo com os requerimentos Leadership in Energy and Enviromental Design (LEED). Possibilitando a redução de 13% em seu consumo de energia, devido ao sistema inteligente de consumo energético, o objetivo era que contribuísse para a redução de 30 toneladas/ano de emissão de CO2 pela otimização do transporte de carga.