O Farmácia Popular, criado para ampliar o acesso da população a medicamentos essenciais, divide opiniões entre os proprietários de farmácias e drogarias, no que se refere à gestão do programa. De um lado, empresários reclamam que os repasses do Governo não cobrem os custos dos medicamentos, tornando a adesão financeiramente inviável, podendo até gerar prejuízos.
Por outro lado, há quem defenda que o programa não deve ser analisado apenas pelo faturamento direto. Para muitos, a participação na iniciativa atrai novos clientes que, além de retirarem os medicamentos subsidiados, acabam comprando outros produtos, aumentando o ticket médio da farmácia.
O fato é que a questão está dividindo aqueles que têm um negócio e precisam entender de gestão para tomar decisões de nível estratégico, planejando e analisando corretamente os riscos.
Essa polêmica começou com o anúncio do Ministério da Saúde, em fevereiro, de mudanças expressivas no programa, que passou a oferecer, de forma 100% gratuita, os 41 itens do catálogo de medicamentos e insumos de saúde. A ampliação representa um marco na política de acesso a medicamentos no Brasil. Em 2024, o programa alcançou o maior número de beneficiários desde 2006, ultrapassando 24 milhões de pessoas atendidas, segundo a Agência Gov.
A partir de agora, todos os brasileiros têm acesso gratuito a medicamentos para doenças como asma, diabetes, hipertensão, osteoporose, parkinson, glaucoma e anticoncepcionais, além de fraldas geriátricas para idosos e pessoas com deficiência. Pelo menos 1 milhão de pessoas - principalmente idosos, que antes pagavam coparticipação em alguns insumos, mas agora vão retirar tudo gratuitamente - serão imediatamente beneficiadas.
Adão Fonseca diretor da rede associativista Melhor Compra, com mais 700 lojas em 23 estados. Ele postou, em suas redes sociais, um vídeo defendendo o programa, mas os comentários de seus seguidores mostraram a realidade de donos de farmácias independentes.
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Fonseca dizia que o Farmácia Popular vale a pena apesar de alguns produtos não proporcionarem o repasse total do preço do medicamento às farmácias. Ele exemplifica com o Forxiga, que tem seu preço subsidiado pelo Governo a R$ 3,95 por comprimido, o que equivale a R$ 118,50 numa caixa com 30 comprimidos de 10mg. No entanto, o preço de fábrica dele é maior, mesmo com o desconto fornecido pela indústria farmacêutica.
Ele defende que só tem direito à gratuidade do Forxiga quem tem 65 anos em diante. “Levando em consideração que 10% da população brasileira é diabética, nós estamos falando de um percentual muito pequeno, ou seja, esse impacto não é tão grande quanto se pensa”, explica ele.
Já uma seguidora de Fonseca postou a seguinte conta na postagem dele: “Eu compro o Forxiga a R$ 176,00, vou ter R$ 58,00 de prejuízo. Mas, eu atendo mais ou menos 70 clientes desse medicamento… 70x58=4.060. Resumindo, todo mês vou tomar R$ 4.060,00 de prejuízo!! Ah e eu ando pagando mais de 10k de imposto”.
Por outro lado, Fonseca menciona outros benefícios, como atracão de pacientes polimedicados, aumento do ticket médio, fidelização, geração de fluxo e diferenciação no mercado. “Ou seja, quando bem estruturada, a inclusão do Forxiga pode ser um diferencial competitivo enorme! Sua farmácia está aproveitando essa oportunidade?”, indaga ele.
Outro seguidor reage à sua postagem: “o problema não e só o Forxiga. Ele é apenas mais um item que já não ganhamos nada. Glifage, Forxiga, propranolol etc. são alguns exemplos da FP que não ganhamos nada, vamos pensar no macro agora, não ganhamos em fralda, não ganhamos em leite, não ganhamos em anticoncepcional, não ganhamos em produtos de uso contínuo. Por isso as drogarias estão cada vez mais sem dinheiro em caixa”, lamenta ele.
O professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e diretor de Marketing do Grupo Farma Ponte, Ricardo Leite, faz algumas considerações sobre os benefícios citados:
- Atração de pacientes polimedicados: esse é um ponto crucial, pois pacientes que utilizam Forxiga geralmente precisam de outros medicamentos, o que aumenta as vendas totais. Isso pode ser um grande benefício para a farmácia, já que atrair um paciente polimedicado pode levar à compra de diversos produtos.
- Aumento do ticket médio: ao oferecer Forxiga gratuitamente, a farmácia pode incentivar os pacientes a comprar outros produtos relacionados, como Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs), suplementos e produtos para diabetes. Isso pode aumentar o ticket médio de cada atendimento, compensando parcialmente o custo do Forxiga.
- Fidelização: pacientes crônicos que recebem um bom atendimento tendem a voltar à farmácia regularmente. Se esses pacientes se tornarem clientes fiéis, a farmácia pode beneficiar-se de uma base de clientes estável e contínua.
- Geração de fluxo: mais pacientes circulando na farmácia pode levar a um aumento nas vendas indiretas e a melhores negociações com distribuidores, devido ao maior volume de compras. Esse fluxo maior também pode contribuir para a visibilidade e reputação da farmácia.
- Diferenciação no mercado: ao oferecer Forxiga gratuitamente, a farmácia pode se destacar no mercado, especialmente no atendimento a pacientes diabéticos. Isso pode atrair novos clientes que procuram um atendimento especializado e focado em suas necessidades de saúde.
“Considerando esses pontos, é possível argumentar que a inclusão do Forxiga, apesar do custo inicial, pode trazer benefícios significativos em longo prazo. A farmácia deve avaliar cuidadosamente esses fatores e estruturar sua estratégia de forma a maximizar as vantagens mencionadas, porém, se fazem necessárias algumas ações para minimizar o custo inicial”, fala Leite, que relaciona alguns conselhos para não comprometer a sustentabilidade da farmácia:
- 1. Análise Financeira Detalhada: realizar uma análise detalhada dos custos e benefícios envolvidos. Isso inclui entender o impacto financeiro do fornecimento do Forxiga gratuitamente e comparar com o aumento esperado no ticket médio e no fluxo de clientes.
- Gestão de Estoque: manter um controle rigoroso do estoque de Forxiga e de outros medicamentos relacionados. É importante evitar desperdícios e garantir que os medicamentos estejam disponíveis para os pacientes sempre que necessário.
3.Negociação com Fornecedores: negociar melhores condições de compra com distribuidores e fornecedores, aproveitando o aumento do volume de vendas gerado pelo fluxo adicional de pacientes.
4.Treinamento de Equipe: investir no treinamento da equipe para fornecer um atendimento de alta qualidade, capaz de fidelizar os pacientes crônicos e incentivá-los a comprar outros produtos.
- Divulgação e Marketing: informar os pacientes e a comunidade sobre a disponibilidade gratuita do Forxiga e os benefícios que a farmácia oferece. Uma boa estratégia de marketing pode ajudar a atrair novos clientes e reforçar a posição da farmácia no mercado.
- Monitoramento Contínuo: implementar um sistema de monitoramento contínuo para avaliar o impacto das ações e ajustar a estratégia conforme necessário. Isso inclui coletar feedback dos pacientes e analisar os dados de vendas regularmente.
7.Parcerias Estratégicas: estabelecer parcerias com médicos, clínicas e hospitais para promover a farmácia como referência no atendimento a pacientes diabéticos e polimedicados.
8.Conformidade Regulatória: garantir que todas as práticas estejam em conformidade com as regulamentações vigentes do programa, evitando qualquer tipo de penalidade ou complicação legal.
“Ao adotar esses cuidados, a farmácia pode maximizar os benefícios da inclusão do Forxiga enquanto minimiza os riscos associados”, finaliza Leite.
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