As distribuidoras de medicamentos estão elevando os gastos com segurança em resposta ao roubo de cargas farmacêuticas, de acordo com um estudo realizado pela consultoria Deloitte a pedido da Associação Brasileira de Distribuidores de Medicamentos Especializados, Excepcionais e Hospitalares (Abradimex).
O levantamento aponta que 33% das empresas ampliaram em 20% a 40% os recursos para segurança, enquanto 17% gastaram até 60% mais. A metade restante das empresas aponta que elevou os investimentos em até 20%.
A expectativa de especialistas em gerenciamento de risco de cargas, de acordo com a Abradimex, é de que este tipo de crime aumente em 2025, embora os medicamentos representem cerca de 2% de todas as cargas roubadas no último ano.
A associação aponta que este tipo de crime está direcionado a produtos específicos de alto custo e não se trata de um roubo de oportunidade, mas, sim, por encomenda.
As empresas distribuidoras são a ponte logística entre a indústria farmacêutica, que produz os medicamentos, e o chamado canal institucional, formado por compradores como planos de saúde, hospitais e clínicas privados e órgãos públicos integrantes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Mercado milionário
A Abradimex é formada por 15 associadas que atendem 70% do mercado nacional, ou cerca de 15 mil instituições de saúde. O presidente do conselho da Abradimex, Marcos Marques, afirma que transportadoras de valores fazem entregas que chegam a R$ 2 milhões por viagem.
“Isso virou um chamariz para as quadrilhas e temos uma preocupação grande com a saúde das pessoas. Depois de roubados, esses medicamentos vão para o mercado ilegal sem controle de qualidade, armazenamento em temperatura adequada”, explica ao Valor
No caso de doenças raras, em que a produção mundial de medicamentos costuma ser de baixos volumes e concentrada por fabricantes estrangeiras, Marques afirma que há o risco de os pacientes não receberem a nova remessa a tempo após um roubo de carga. Cerca de 85% dos roubos totais ocorrem na região Sudeste e, de acordo com Marques, o Rio de Janeiro é uma “região crítica”, em que seguradoras chegam a recusar apólices para as cargas.
A Abradimex aponta que, com o maior custo operacional, o setor está operando com margens comprimidas, apesar do crescimento de receita líquida. Os dados mostram que, em 2023, a receita líquida avançou 9%, enquanto a alta do custo de mercadoria vendida foi de 9,8%. Os custos classificados como frete e embalagens, segundo a associação, avançaram 28% nos últimos três anos.
O levantamento da Deloitte aponta ainda que a venda de medicamentos via distribuição somou R$ 48,1 bilhões no acumulado de 2024 até agosto, o que representa alta de 16,7% em relação ao mesmo período de 2023. As vendas via distribuição são a principal opção para os operadores de saúde privados, enquanto o setor público é majoritariamente abastecido por compras diretas, refletindo aspectos como a necessidade de licitação.
O setor público responde por 87% do faturamento com vendas diretas, ou R$ 25,8 bilhões. Já as vendas via distribuição, que movimentaram R$ 48,1 bilhões no ano passado, foram compostas em 80% pelo setor privado.