A Ultrafarma Popular foi lançada em 2018 pelo formato de conversão de outras bandeiras na marca, por meio do modelo de licenciamento, e mantendo o conceito da Ultrafarma
O cenário econômico após a pandemia e o aumento da competição no setor de farmácias levaram duas lojas da Ultrafarma Popular a pedir recuperação judicial, num processo em andamento na 1ª Vara Regional de competência Regional e de Conflitos de Arbitragem.
A Ultrafarma Popular foi lançada em 2018 pelo formato de conversão de outras bandeiras na marca, por meio do modelo de licenciamento, e mantendo o conceito da Ultrafarma, fundada pelo empresário Sidney de Oliveira.
Além dessas ações no ABCD paulista, uma terceira loja da marca, que operava por meio de sistema de licenciamento, entrou com ação contra a empresa por falta de suporte operacional, informa nos autos. A ação segue em andamento na 2º Vara Empresarial e de Conflitos de Arbitragem de São Paulo.
Por meio desse modelo, o grupo buscava acelerar a força da marca de forma mais rápida pelo país, e ampliar a venda de itens mais baratos. Além disso, a ideia era crescer a demanda dos produtos ligados ao nome de Sydney Oliveira, como as vitaminas que levam a sua marca, que possuem margem bruta acima de outras categorias da loja.
Pelo sistema, donos de farmácias de bairro ou independentes podem licenciar a marca e comprar produtos da Ultrafarma diretamente da matriz.
Nos últimos meses, grandes cadeias de farmácia têm afirmado que as vendas perderam força, mesmo em praças mais resilientes no país, assim como houve crescimento no volume de roubos, e na canibalização entre lojas de mesma marca.
Os processos em andamento
A respeito das ações no Estado de São Paulo, no último dia 12 de junho, a Justiça deferiu o pedido de recuperação judicial por consolidação substancial, ou seja, unindo ativos e passivos de duas lojas da Ultrafarma Popular em um mesmo grupo e processo. Na ação estão incluídas as unidades da Ultrafarma Popular de Diadema (SP), inauguradas em 2021.
Os donos dos pontos alegam que a crise econômica recente e a abertura de drogarias concorrentes em locais próximos às suas unidades, com impacto direto nas vendas, afetou o desempenho. Ainda dizem que a exclusão das unidades do programa Farmácia Popular gerou significativa perda de receita e retenção de valores.
Somado a isso, afirmam que ocorreu um aumento dos custos operacionais, especialmente com insumos farmacêuticos, sem possibilidade de repasse integral ao consumidor, e num momento de maior demanda por vendas on-line “e necessidade de novas adequações operacionais”.
Como resultado, a empresa foi ficando sem capital de giro, com desabastecimento de produtos e redução dos prazos de pagamento aos fornecedores.
Um dos principais fornecedores era a própria Ultrafarma, mas o juiz do caso, Ralpho Monteiro Filho, não relata no processo se houve efeitos de redução de fornecimento pela empresa.
A Justiça determinou que, no prazo de 30 dias, até 12 de julho, apresentasse relatório inicial das atividades das lojas e , pelo prazo de 180 dias, ficou suspenso o curso da prescrição das obrigações da devedora sujeitas ao regime da lei de recuperações judiciais.
As unidades deram entrada no pedido no fim de 2024, mas ele foi deferido, de forma consolidada para as duas lojas, na quinta-feira passada. O valor da ação é de R$ 7,7 milhões.
Paralelo a isso, a empresa MG Produtos e Serviços Farmacêuticos, dona da loja Droga Certa, em Barra do Garças (MT), licenciada da Ultrafarma Popular, entrou com ação alegando que foi induzida a erro no contrato assinado entre as partes. Os requerentes pediram tutela de urgência, que só é concedida se há risco de dano ao negócio até que o caso seja julgado, mas o pedido não foi concedido pelo juiz do caso, Gustavo Mazzuti.
Os donos da farmácia disseram ter acreditado, em 2022, que tinham fechado contrato de franquia, e era de licenciamento. A principal diferença entre ambos está no nível de autonomia na gestão, maior no licenciamento, assim como no suporte, que acaba sendo mais completo na franquia. Em ambos, há pagamento de royalties.
Segundo os autores da ação, o contrato tinha características de franquia, mas era vendido como se fosse licenciamento, causando confusão juntos aos empreendedores. Dizem que foram obrigados a adquirir bens e insumos de fornecedores parceiros da Ultrafarma e foi limitada a comercialização de seus produtos, além de serem obrigados a contratar sistema de informações e manutenção de layouts internos e externos.
“Em contrapartida, não foi oferecido suporte de marketing ou operacional. Aduziu que acabou por assumir vultoso prejuízo, causado pelo insuficiente suporte”. A empresa MG pediu rescisão e nulidade do contrato e pagamento e devolução do valor pago a título de royalties de R$ 183,5 mil.
Ao não conceder o pedido de tutela de emergência, o juiz chega a sinalizar possível incoerência em um dos fatos alegados, de que se tratava de um licenciamento, e não de franquia, como a drogaria alegava.
Mazzuti afirma que a tutela não é permitida visto que ambas as partes estavam em pé de igualdade e eram capazes de compreender os contratos quando foi assinado. Ainda afirma que não é possível atribuir à Ultrafarma Popular os problemas financeiros enfrentados pela MG.
Em maio, a Ultrafarma teria 15 dias para apresentar defesa. A ação é de R$ 2,2 milhões.
“Agradável e bonito”
Quando chegou ao mercado, o negócio da Ultrafarma Popular foi apresentado como tendo “layout sofisticado, design arrojado e logomarca nas cores preta e amarela”, dizia.
“A marca promete manter o modelo tradicional de preços competitivos em um ambiente físico muito agradável e bonito”. A ideia, segundo Oliveira, era abrir 75 lojas em 2020, com a meta de chegar a mil unidades da Ultrafarma Popular de 2020 a 2023.
No site do grupo, não há informação do tamanho dessa operação de licenciamento atualmente. Procurada, a empresa afirma, sobre esse modelo de licenciamento, que está ciente da recuperação judicial e está atuando com o licenciado para que mantenha a operação junto à bandeira.
Questionada nesta quarta-feira, a empresa ainda não se manifestou sobre a ação em andamento em Mato Grosso.