Diversidade genética nacional vira alvo de farmacêuticas mundiais para estudos clínicos

Diversidade genética nacional vira alvo de farmacêuticas mundiais para estudos clínicos

O mercado nacional de pesquisa clínica, que movimenta anualmente R$ 11 bilhões, tem potencial para receber novos investimentos de R$ 5 bilhões por ano. Há um interesse crescente de investidores locais e estrangeiros de realizar esses estudos no Brasil, com destaque para as farmacêuticas chinesas, que vêm ganhando posições e já superaram os Estados Unidos em volume de estudos clínicos, segundo a Associação Brasileira de Organizações Representativas de Pesquisa Clínica (Abracro). No entanto, a chegada desses aportes ainda depende de que algumas barreiras regulatórias sejam destravadas.

Há um interesse global em realizar as pesquisas clínicas no Brasil porque o país tem uma população de 200 milhões de pessoas com a maior variedade genética do mundo - o que foi comprovado em pesquisa liderada por cientistas da USP publicada na revista “Science”, no mês passado

“A indústria está nos procurando porque essa miscigenação tem muito valor para o desenvolvimento da medicina de precisão. Essa é a medicina que usa dados do genoma do paciente para entender quais as predisposições genéticas a doenças e os tratamentos mais adequados”, disse a pesquisadora Lygia da Veiga Pereira, uma das autoras do estudo.

Mesmo com essa vantagem competitiva ímpar, praticamente impossível de ser alcançada por outros países, o mercado nacional de pesquisa clínica ainda patina devido à legislação. A lei que trata do tema foi aprovada no ano passado, mas ainda existe uma insegurança jurídica que, agora, parece caminhar para uma solução e pode destravar os investimentos.

Na semana passada, um dos principais entraves foi superado. Havia um veto à lei do presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinando que os medicamentos alvos de pesquisa clínica teriam que ser fornecidos aos participantes do estudo por tempo indeterminado. O Congresso derrubou, na terça-feira (17), uma série de vetos do presidente, incluindo esse da pesquisa clínica, e passa a valer a regra original, que determina o fornecimento durante cinco anos.

Outra barreira é a falta de regulamentação da lei que, apesar de ter sido aprovada no ano passado, ainda carece de decretos. Mas esse ponto também teve uma sinalização positiva. Na semana passada, Fernanda Nigro, secretária da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), disse, em evento das farmacêuticas nos Estados Unidos, que a regulamentação da lei deverá ser assinada em julho. “A regulamentação poderá contribuir fortemente para atrair investimentos ao país, especialmente após a derrubada do veto presidencial”, disse Rubens Granja, advogado do escritório Lefosse.

De acordo com Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma, sindicato das indústrias do setor, com as barreiras regulatórias sendo superadas, o Brasil pode passar da 20ª para a 10ª posição no ranking global de pesquisas clínicas em dois ou três anos.

Segundo Fernando de Rezende Francisco, diretor-executivo da Abracro, há um interesse de investidores, startups e farmacêuticas estrangeiras, com destaque para as chinesas que, hoje, realizam estudos na Austrália para obter maior diversidade étnica em suas pesquisas. “A China está despontando como uma grande potência, mais rápida e de muita qualidade comparado com os Estados Unidos, no desenvolvimento e na inovação farmacêutica. É impressionante como os chineses sabem sobre o Brasil”, disse Rezende.

Segundo os pesquisadores do Hospital Albert Einstein, Luiz Vicente Rizzo e Fernando Bacal, esse é um momento interessante para o país investir em pesquisa clínica, diante das restrições à academia por parte do atual governo dos EUA e, com isso, atrair cientistas brasileiros que hoje moram em outros países.

O cientista pernambucano João Bosco, que se especializou no Nacional Institute of Health (NIH), um dos principais polos de pesquisa do mundo ligado ao governo dos EUA, voltou ao Brasil de olho na expansão desse mercado. Bosco criou a NeoGenomica, uma empresa com tecnologia capaz de fazer o sequenciamento do genoma completo por um custo muito menor, entre R$ 3 mil e R$ 4 mil. Esse é um teste ofertado por cerca de R$ 15 mil. A nova empresa recebeu aporte da família do Grupo João Paes de Mendonça e do ex-presidente do Hospital Sírio-Libanês Paulo Nigro.

“A China já produz mais estudos clínicos do que os EUA. Eles têm interesse em fazer pesquisa no Brasil” (Fernando Francisco)

A advogada Renata Rothbarth, do escritório Machado Meyer, também acompanha o interesse de estrangeiros. “Há investidores de fora, interessados, que nos procuram. Entre as áreas que eles nos reportam interesse estão os centros de pesquisa, um mercado grande nos EUA com potencial para crescer no Brasil. Alguns já estão apostando na baixa, acreditando que a legislação vai ser regulamentada. Mas, há também aqueles que preferem esperar, então, precisamos ter a regulamentação”, disse.

Esses centros, conhecidos nos Estados Unidos como CRO (Contract Research Organization), são instituições que fazem a coordenação das pesquisas, buscam os cientistas, patrocinadores e pacientes elegíveis aos estudos.

A TribeMD (ex-MedIQ), empresa que reúne centro de pesquisa clínica e educação para médicos, está captando US$ 10 milhões em debêntures para ampliar sua operação nos EUA e Canadá. “Investiremos esse recurso para aumentar equipe médica e operação no Brasil. O comercial vai expandir nos EUA e Canadá, mas a área médica e a operação vão ser sempre no Brasil, como forma a valorizar nosso país”, disse o empresário Thomas de Almeida, presidente do conselho da TribeMD. A empresa é liderada por Luiz Natel (ex-CEO da Oncoclínicas) e Renato Lopes, professor da Duke University, que tem um grande número de artigos publicados em revistas científicas internacionais.

O Fleury inaugurou em abril um centro de pesquisa para participar desse novo movimento. Até então, a empresa processava os exames para as farmacêuticas e, agora, se torna um agente coordenador de estudos, explica Edgar Gil Rizzatti, responsável por essa área dentro do Fleury.

Segundo especialistas, além da variedade genética e do custo menor por causa do câmbio, outro ponto atrativo para os investidores é a rede de hospitais e laboratórios. Esses estabelecimentos de saúde são essenciais no desenvolvimento das pesquisas clínicas e vai sair na frente quem tem capilaridade no país.

O Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), iniciativa da família Moll que se comprometeu a colocar R$ 1 bilhão de recursos próprios e da Rede D’Or no centro de pesquisa, tem essa vantagem da presença nacional por meio de sua rede hospitalar com 80 unidades. “Temos acesso a casos no país todo. Essa busca pelos pacientes é facilitada porque já estamos com eles”, disse Paulo Hoff, presidente da Oncologia D’Or. Entre os 150 estudos já realizados, os cientistas do IDOR participaram, por exemplo, das pesquisas para vacina da covid-19 e dos estudos do zika vírus e sua relação com a microcefalia.

O centro de pesquisas da Dasa acompanhou 320 pacientes brasileiros que participaram, entre 2019 e 2023, da pesquisa clínica global do Mounjaro, medicamento para diabetes e emagrecimento da Eli Lilly, que foi lançado no Brasil em 2025.

As farmas nacionais também estão investindo nesse mercado. O Aché montou uma equipe própria de cientistas para ampliar as pesquisas clínicas. “Neste ano, estamos investindo 6,5% da receita líquida em inovação. Esse percentual, certamente, vai aumentar”, disse Stevin Zung, diretor executivo médico do Aché.

É esperada uma concorrência com os grupos internacionais, o que pode ser um dificultador para as farmas locais. “Temos essa consciência, mas já estamos conversando com os centros de pesquisas nacionais. Há uma abertura de diálogo para condições diferenciadas para os nacionais”, disse o diretor médico do Aché.

A EMS, conhecida por sua forte atuação no mercado de genéricos, hoje trabalha para ser reconhecida como uma empresa ligada à inovação. A farma é a primeira empresa nacional a lançar as canetas emagrecedoras, que são febre em vendas. A projeção é comercializar 500 mil unidades no país, em 12 meses, das canetas batizadas de Olire e Lirux.

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