É comum que os conselhos de administração das grandes empresas tenham profissionais seniores, com mais experiência. Entretanto, conforme destacam especialistas de consultorias que participam da seleção de executivos, como é o caso do diretor-geral de recrutamento da Page Executive, Ricardo Basaglia, esse cenário está mudando.
De acordo com ele, ainda que minoria, atualmente há um número significativo de executivos jovens, com idade entre 30 e 49 anos, nesses conselhos. "Talvez se tivéssemos essa discussão há dez anos ou até há cinco, os poucos 'jovens' que existiam em conselhos eram aqueles que vinham de famílias de acionistas, que eram indicados por familiares, menos talvez pela experiência, pela reputação de mercado, que é o que se espera de um conselheiro profissional", disse ele, em matéria publicada pelo portal Terra.
Ainda de acordo com a informações divulgadas pelo veículo, as companhias estão mais abertas a convidar executivos mais jovens para compor esses conselho, pois buscam por uma maior diversificação dos colegiados.
Levantamentos
Uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial (IBDEE) confirma essa percepção de especialistas recrutadores, pois o levantamento revela que conselheiros com idade abaixo de 50 anos estão em cerca de 74% das organizações, em conselhos de administração e consultivos, sendo representados por duas ou mais pessoas em 48% dos colegiados.
Nesse sentido, Basaglia destaca que também há um grande interesse por parte dos jovens em fazer parte desses conselhos. "Existe um interesse desse jovem de querer estar dentro do grupo da tomada de decisão, da estratégia, da visão. Hoje, quando você pergunta [algo] para um jovem executivo, uma das aspirações é estar no conselho. De novo, se fizéssemos essa pergunta para a maior parte dos jovens há dez anos, ouviríamos essa resposta muito pouco. Eu acho que tudo começa pela aspiração", disse ele.
Exemplos
Um exemplo deste novo cenário está na trajetória de carreira de Fábio Galindo, que aos 41 anos é presidente do Conselho de Administração da empresa de saneamento Aegea, após assumir o cargo há dois anos, quando tinha 39 anos.
Segundo Galindo, a agenda da governança sofreu uma mudança de visão com a pandemia, pois deixou de ser ligada somente ao lucro, no passado, para um propósito mais direcionado ao capitalismo de stakeholders, que não deixa de focar na lucratividade, mas também se preocupa com os propósitos.
“A presença de pessoas mais novas traz essa agenda mais moderna aos conselhos, de preocupação com os impactos ambientais e sociais e, também, com a governança. Essa preocupação se revela mais relevante do que nunca, agora, na retomada da atividade econômica. A pandemia acelerou a necessidade de revisitar os propósitos de uma empresa. Não pode ser só lucro, tem que ter um olhar para as pessoas e para o planeta", afirmou ele, na entrevista publicada pelo portal Terra.
Diversidade
Por fim, Galindo destaca que essa diversidade nos conselhos é importante para que as empresas possam alcançar melhores resultados, já que os jovens podem ser bem conectados com questões sociais e relacionadas às transformações digitais.
"A diversidade principal dentro dos conselhos é a diversidade de pensamento. E a diversidade de gênero, de raça, etária, entre outras, pode trazer visões diferentes para a mesa, obtendo melhores decisões", opinou ele, que tem formação em compliance, em modelos de gestão de risco corporativo e em sistemas de controle.
